sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Não apenas outro tijolo no muro

Quem passa pela rua, impossível não se impressionar: uma “impressora” pintando um muro. Alguns carros param momentaneamente em frente ao muro. Outros alguns chegam a pé. Mas para alguns muito específicos, essa cena é ainda mais impressionante. Cada um desses alguns específicos que chega, registra um pedacinho desse momento tão especial. Para estes, não é só um muro. Não são só imagens. É o símbolo de um longo processo de crescimento. 

São os rostos de seus filhos que estão nesse muro. Rostos que vão tomando forma aos poucos. E este muro é a escola em que essas crianças estão encerrando uma etapa muito importante de suas vidas: o final do ensino infantil. Crianças que, para angústia dos pais, não estão tomando forma tão aos poucos como gostaríamos de acreditar. 

Esse belíssimo ritual de passagem emociona a todos, e como grande manteiga derretida que sou, me acabei em lágrimas logo após minha filha atravessar o portão. “Minha pequerrucha, seus dias de ‘infantil’ estão contados”. É óbvio eu já sabia disso. Mas esse muro, esse ritual, estampa a realidade e me  lembra: é pra valer! 

Nunca em suas vidas estas crianças se desenvolverão tanto. Cresceram e aprenderam. Estão se tornando cidadãos e cidadãs de um mundo nada fácil. Tarefa quase impossível ajudá-los a se desenvolverem plenamente para enfrentar esse mundo que nem nós, adultos ciosos de tudo (na fantasiosa e maravilhosa visão infantil), conseguimos compreender e explicar totalmente. 

E pra mim, é um grande alívio saber que minha filhota está passando por essa etapa da vida em companhia de pessoas tão incríveis: crianças, professores, auxiliares, ajudantes, funcionários desse lugar quase único. Encontramos, nesse lugar, uma parceria rara. Fizemos amigos, conhecemos famílias sensacionais, únicas, com suas diferenças e peculiaridades, mas sempre construindo relações baseadas em um respeito verdadeiro.

Durante essa parte da jornada de sua vida (que, espero, será muito longa), minha pequena ganhou um irmão, perdeu um avô, viu o pais se separarem. Quanta coisa para esse coraçãozinho conseguir lidar! Mas lá estavam todas essas pessoas incríveis, amigos, parceiros de jornada, com muito amor, acolhimento e compreensão.

Um grande alívio poder contar com esses muros. Que lhes dão toda a segurança (não só física) de que precisam para crescer sem, no entanto, lhes privarem do que acontece no mundo fora deles. Um grande privilégio pertencer a esse lugar onde, todos juntos, estamos lutando para formarmos pessoas que não serão apenas mais um tijolo no muro. 

Cris Attab, mãe da Mia, nos últimos dias do I5B - tarde














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