Como grande arteira que adora as artes todas, conheço o
efeito das obras: uma imagem que se fixa, um acorde final que soa por muito
tempo, aquela cena que impressiona, a fala que marca. São ressonâncias. Que
vibram em nós, mesmo tempos depois de nos distanciarmos da experiência.
Assim são os diálogos. Assim deveriam ser as trocas. Assim
está acontecendo em mim, e espero que em outros, depois da ciranda de conversa
que tivemos com Christian Dunker e Débora Vaz. Esse encontro de Titãs, tão
sonhado por nós da Escola dos Pais, reverberou até o Monte Olimpo. E ainda
reverbera em mim.
As escolhas que temos que fazer, quando nos tornamos pais,
são carregadas de dúvidas, inquietações, angústias algumas vezes. A Escola dos
Pais é um espaço incrível de troca. Mas poder conversar com pessoas como
Christian e Débora é um privilégio único. Nesse aquário, a conversa fluiu de
forma tão orgânica e descontraída, que parecíamos íntimos. Intimidade que me
deu coragem, e uma certa dose de ousadia, para expor meus dilemas no que tange
criar filhos nessa sociedade um tanto caótica e bastante complexa. Falar de
minhas escolhas, quando tenho consciência que isso pode causar um impacto não
muito positivo nos ouvintes, é muito mais tranquilo se não me sinto num
tribunal, sendo julgada a todo momento. Claro que as reações sempre são de
estranhamento. Porém, isso é coisa fácil de administrar.
No final da conversa, que poderia ter durado a noite
inteira, não fosse o senso solidário de Cláudio Thebas, não sai com um manual
de “como/o que fazer…”. Minha sensação estava mais parecida com #ficaadica.
E isso condiz muito com o que acredito sobre a educação. Não
existe manual, apostila, cursinho. Até as cartilhas de alfabetização não são
mais usadas como antigamente. Porque cada criança é única. Cada aluno é único,
e tem seus tempo e processo próprios de aprendizado. Assim como cada filho é
único (tenho três, sei disso na prática), com suas formas unicas de conhecer e
experimentar o mundo.
Um desafio muito grande para mim, é saber dosar a liberdade.
Christian e Débora falaram coisas incríveis sobre isso. Esclarecedoras.
Autonomia e independência. Palavras difíceis de definir. De utilizá-las; de
colocá-las em prática. Não acho justo dar vida à essas pessoinhas que são meus
filhos, e depois não deixar que vivam de forma plena. Por outro lado, é minha
responsabilidade que cresçam em segurança. Também é minha responsabilidade
ensina-los como o mundo em que vivemos funciona (para meu alívio, essa
responsabilidade é um pouco dividida com a família, amigos, escola). Que
balançaça difícil de equilibrar!!!
Mas depois dessa ciranda de conversa com os especialistas e
outros pais, algo me ocorreu. Num universo permeado de dúvidas sobre o futuro,
os acertos e os erros, as escolhas, uma coisa ficou evidente. Não posso
determinar como será o futuro dos meus filhos. Não posso (e nem quero!),
escolher os caminhos que seguirão. Colocar no GPS o destino final, entregar o
aparelho em suas mãozinhas pequenas e dizer: sigam a linha vermelha, atentos às
instruções da voz da moça. Meu coração de mãe sempre almejará que eles sejam
felizes. Mas cada um deles, e só eles, saberão onde buscá-la.
Da minha parte, o que posso fazer é dar-lhes um mapa e uma
bússola, bem calibrada. E ensina-los a usar. Mostrar onde fica o norte. Fazer
um X bem grande no mapa em cima da “casa da mamãe” (aqui está o tesouro!). E
talvez, se eu fizer meu trabalho bem feito, em momentos que o caminho se tornar
escuro, eles permitirão que possa estar ao lado deles, segurando uma lanterna.
Cris Attab
Nenhum comentário:
Postar um comentário